Efeito dos anti-inflamatórios sobre a consolidação das fraturas

O processo de consolidação das fraturas é o único, não sendo uma cicatrização, mas sim uma verdadeira regeneração tecidual, onde o osso recupera sua função através da formação de um tecido exatamente como original. Esse processo de diferenciação tecidual sequencial envolve uma série de reações orgânicas onde participam muitos mediadores inflamatórios. Entre os muitos fatores que podem influenciar no processo de consolidação das fraturas, o uso de anti-inflamatórios tem recebido muita atenção. Uma vez que esses medicamentos reduzem a produção de mediadores inflamatórios, retardar o processo de consolidação das fraturas pode ser um de seus efeitos indesejáveis. Algumas fraturas podem até mesmo não consolidar, na situação chamada tecnicamente de pseudoartrose. Como qualquer medicamento, os anti-inflamatórios também podem ter efeitos adversos ou colaterais. Entre os efeitos indesejados dos anti-inflamatórios, estão problemas gastrointestinais, como gastrite ou úlceras, piora no controle da pressão arterial ou aumento no risco de sangramento, entre outros. Curiosamente, muitos estudos animais não demonstraram prejuízo da consolidação óssea com uso de anti-inflamatórios. Todavia, o mesmo não pode ser dito de estudos humanos. Uma revisão recente da literatura, publicada em 2021, fez uma metanálise apenas de estudos randomizados em humanos (vide referência abaixo), envolvendo mais de 600 pacientes com fraturas de ossos longos, como tíbia ou fêmur. A principal conclusão desse estudo foi que os pacientes que usaram anti-inflamatórios tiveram três vezes mais risco de desenvolverem não-união de suas fraturas.
Algumas considerações, por outro lado, precisam ser feitas. Logo após uma fratura, o quadro doloroso pode ser muito exacerbado e é frequente que ocorra edema importante no membro fraturado. Assim, o controle da dor e a redução do edema, através da redução da inflamação, são desejáveis nos primeiros dias após a fratura. O que esse estudo também mostrou foi que uso de anti-inflamatórios em curta duração (definida como menos de duas semanas de uso contínuo) não esteve associado a um comprometimento significativo da consolidação óssea. Outro achado muito importante foi que a indometacina parece ser o anti-inflamatório o que mais prejudica a velocidade de consolidação óssea, devendo, portanto, ser evitado. Anti-inflamatórios recentes, que atuam seletivamente como inibidores da enzima COX-2, parecem ser menos prejudiciais.
Em resumo: as evidências até o momento sugerem que após uma fratura, devemos fazer uso cauteloso dos anti-inflamatórios e apenas quando necessário, evitando o uso contínuo por mais do que duas semanas.
Fonte:
The effect of NSAIDs on postfracture bone healing: a meta-analysis of randomized controlled trials.
Humaid Al Farii, MD, MRCS (Ir), Leila Farahdel, MD, Abbey Frazer, MD, Ali Salimi, MD, Mitchell Bernstein, MD, FRCSC
OTA (2021) e092
Joelho, Trauma e Esporte









