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QUANDO É SEGURO VOLTAR A DIRIGIR APÓS A CIRURGIA DO JOELHO?

Direção após cirurgia do joelho

Uma das grandes preocupações quando um paciente é submetido a uma cirurgia de joelho é quando seria o momento seguro para voltar a dirigir. Todos nós queremos rapidamente retomar as nossas atividades, tanto no trabalho, como nos esportes, mas dirigir um veículo após operar o joelho tem duas preocupações principais: uma delas é sobre a segurança da cirurgia em si, para não prejudicar o resultado da operação. A outra preocupação é com a segurança do trânsito, pois podemos nos colocar em situações de risco, assim como outras pessoas.

Não são muitos os trabalhos na literatura sobre esse assunto e a maioria deles conclui que o maior risco está relacionado à segurança no trânsito, pois os esforços realizados ao pressionar os pedais do acelerador, freio ou embreagem, geralmente não são significativos e não colocam em risco as cirurgias mais comuns. Todavia, há muitos fatores que devemos levar em consideração no aconselhamento dos pacientes: idade do paciente, tempo decorrido após a cirurgia, nível de dor, controle muscular, tipo de cirurgia realizada, veículo a ser conduzido, duração do trajeto no qual o paciente irá dirigir e outros.

É sabido que pacientes com idade mais avançada possuem uma recuperação mais lenta. Assim, aguardar um período adicional costuma ser recomendado nesse grupo de pacientes, lembrando, porém, da individualidade e do nível de independência de cada um. Toda cirurgia e toda orientação pós-operatória deve ser personalizada. Nos primeiros dias após a cirurgia, o paciente pode ainda estar com dor, pouco controle muscular e com reflexos lentificados por medicações utilizadas para analgesia. Os opióides, por exemplo, podem causar algum grau de sedação, e a condução de veículos é contraindicada. Cirurgias mais comuns, como as artroscopias de joelho (cirurgias meniscais ou ligamentares mais simples), artroplastias não complicadas (colocação de prótese) e mesmo algumas osteotomias, são compatíveis com a descarga de peso no membro operado imediatamente após a cirurgia. Nesses casos, a pressão necessária para ser aplicada em pedais de veículos de passeio comuns não representa um perigo. Outras cirurgias, por outro lado, requerem um maior período de repouso e não permitem descarga de peso nas primeiras semanas. Exemplos são fraturas articulares mais complicadas, procedimentos condrais (cirurgia de cartilagem), suturas meniscais complexas (reparo da raiz meniscal ou lesões radiais), realinhamentos patelares associados a osteotomias e outras. Nesses exemplos, a descarga de peso liberada no pós-operatório geralmente é bem leve e dirigir pode representar um perigo para a integridade da cirurgia.

Por fim, o fator que parece ser realmente o mais importante com relação à época segura para se voltar a dirigir após uma cirurgia de joelho é o tempo de reação e a capacidade de colocar pressão nos pedais do veículo. Recentemente, em uma publicação de outubro de 2021 na revista Knee Surgery, Sports Traumatology and Arthroscopy - KSSTA, revista oficial da sociedade europeia de cirurgia do joelho (ESSKA - European Society of Sports Traumatology, Knee Surgery and Arthroscopy), os autores estudaram prospectivamente o tempo de reação e a força aplicada no pedal após artroplastia total do joelho direito em 30 pacientes, sendo 16 mulheres e 14 homens, com idade em torno de 60 anos. Os dados foram comparados com os obtidos em 45 voluntários saudáveis, que foram utilizados como controle. Os indivíduos incluídos no estudo tiveram que acionar o pedal do freio simulando emergências em um simulador. Os testes foram realizados antes da cirurgia, 5 dias após a cirurgia, assim como com três, quatro e seis semanas após a realização da artroplastia de joelho. Os dados obtidos mostraram que principalmente a pressão aplicada no pedal fica significativamente reduzida após a cirurgia, normalizando-se gradualmente e atingindo os valores normais apenas após a sexta semana. Os autores concluem que habilidade de dirigir fica comprometida após artroplastia do joelho, sendo seguro dirigir no trânsito apenas após 6 semanas.

Em uma outra publicação há menos de um ano, em 2021 (The Orthopaedic Journal of Sports Medicine 9(1), 2021, Salem HS e colaboradores, Colorado, Estados Unidos), os autores fizeram uma revisão sistemática da literatura, com nível de evidência 4, incluindo cinco estudos analisando a segurança de dirigir após cirurgias de reconstrução do ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho. Curiosamente, mesmo sendo pacientes mais jovens e cirurgias de menor porte, os achados foram bastante similares, com os pacientes apresentando retorno ao normal do tempo de reação para acionar o freio apenas após 6 semanas, quando operados do joelho direito. Ainda de forma curiosa, mesmo pacientes operados do lado esquerdo apresentaram valores alterados no tempo de reação para frear até a segunda semana após a cirurgia, em um dos estudos incluídos. Dessa forma, os autores recomendam aguardar por 4 a 6 semanas após cirurgia do joelho direito e 2 a 3 semanas após cirurgia do joelho esquerdo para voltar a dirigir após cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior. Ressaltam que, em decorrência dos poucos trabalhos, os dados ainda não podem ser considerados como conclusivos e diversos outros fatores, como apontados anteriormente, devem ser levados em consideração.

 

LITERATURA CONSULTADA:


1.      Return to Driving After Anterior Cruciate Ligament Reconstruction. A Systematic Review. Salem et al, 2021. The Orthopaedic Journal of Sports Medicine.

2.      Reaction Time and Brake Pedal Force After Total Knee Replacement: Timeframe for return to car driving. Kirschbaum S et al, 2021. Knee Surgery, Sports Traumatology and Arthroscopy.


Joelho, Trauma e Esporte

Cápsulas de vitamina D
Por FABRICIO FOGAGNOLO 22 fev., 2024
Estudos epidemiológicos têm demonstrado uma associação significativa entre baixos níveis de vitamina D e a prevalência e gravidade da osteoartrite. A deficiência de vitamina D pode comprometer a integridade da cartilagem articular, promover a inflamação sinovial e contribuir para o desenvolvimento de sintomas articulares.
Cirurgiões atuando em procedimento ortopédico
Por FABRICIO FOGAGNOLO 24 set., 2023
Lidar com a ansiedade antes de uma cirurgia pode ser desafiador, mas existem várias estratégias que podem ajudar a reduzir o estresse e promover uma sensação de calma e controle. O medo pode impedir definitivamente os pacientes de uma vida ativa, da prática de esportes, das viagens e até mesmo do convívio com a família.
Pessoa com uma caixa na cabeça em alusão aos transtornos depressivos
Por FABRICIO FOGAGNOLO 17 set., 2023
Justamente quando a motivação precisa ser maior para enfrentar a reabilitação pós-operatória e as sessões de fisioterapia, os pacientes podem se sentir depressivos. A depressão é um transtorno de saúde mental generalizado caracterizado por sentimentos de tristeza, desespero e diminuição do interesse ou prazer nas atividades.
radiografias mostrando planejamento de osteotomia do joelho
Por FABRICIO FOGAGNOLO 07 dez., 2022
Uma cirurgia que percebo muita resistência por parte dos pacientes no tratamento da osteoartrite do joelho é a osteotomia. O fato é que essa cirurgia é muito menos agressiva e com recuperação mais fácil do que a maioria das pessoas imagina. O paciente ideal é aquele que possui osteoartrite (desgaste) do joelho acometendo apenas um lado da articulação, com boa preservação da cartilagem e do menisco do lado contralateral, e que possui alterações anatômicas em ângulos específicos que são medidos em radiografias panorâmicas no estudo do alinhamento do membro inferior.
Por FABRICIO FOGAGNOLO 20 set., 2022
Danis foi o primeiro a desenvolver um conceito para fixação interna de fratura biomecanicamente estável, criando e produzindo seus próprios parafusos e placas. Em 1938, ele produziu uma placa de aço com parafusos que exerciam compressão axial na superfície da fratura. Um dispositivo conhecido como "coapteur".
Várias injeções ou infiltrações que podem ser aplicadas no joelho
Por FABRICIO FOGAGNOLO 15 abr., 2022
As infiltrações intra-articulares no joelho têm efeito mais localizado, sempre foram populares e muitos medicamentos podem ser empregados, com diferentes eficácias. As principais indicações das infiltrações são para pacientes em estágios não tão avançados de doença, pouca melhora com reabilitação fisioterápica, desejo de postergar cirurgias maiores ou quando o paciente tem problemas clínicos que aumentam o risco cirúrgico.
Braço robótico - cirurgia do joelho
Por FABRICIO FOGAGNOLO 15 dez., 2021
Cirurgias ortopédicas realizadas por robôs não pertencem mais apenas à nossa imaginação. Artroplastias totais e parciais do joelho já são realizadas com muita segurança e precisão, auxiliadas por braços robóticos que buscam minimizar erros e garantir acurácia no posicionamento dos componentes da prótese, resultando em membros bem alinhados, com melhores resultados clínicos e com ótima mobilidade articular. Sensores são colocados no fêmur e na tíbia e monitoram, em tempo real, todas as etapas da cirurgia.
Paciente operada dos 2 joelhos simultaneamente - colocação de prótese
Por FABRICIO FOGAGNOLO 21 nov., 2021
Operar ao mesmo tempo os dois joelhos deveria ser conveniente e ter várias vantagens: recuperação mais rápida, uma única cirurgia e internação, uma única anestesia, maior facilidade para a família se organizar e providenciar os cuidados do paciente, que geralmente é idoso, menores custos de tratamento, menos tempo dentro do hospital. O problema é que há muitos estudos relatando riscos aumentados de complicações sérias em pacientes submetidos a colocação de prótese em ambos os joelhos.
Radiografia de prótese parcial de joelho
Por FABRICIO FOGAGNOLO 17 set., 2021
Quanto tempo minha cirurgia vai durar? Essa pergunta é relativamente fácil de responder, e a resposta é: Muito! A prótese de joelho geralmente dura muito. E “muito” significa que mais de 95% das cirurgias geralmente passam dos 15 anos de durabilidade.
Cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior
Por FABRICIO FOGAGNOLO 16 set., 2021
As lesões do ligamento cruzado anterior (LCA) são muito frequentes na população. Uma grande preocupação no longo prazo, tanto para o tratamento conservador como para o tratamento cirúrgico, é o surgimento de lesões condrais (cartilaginosas) e a evolução para osteoartrite secundária no decorrer dos anos.
Artroscopia mostrando lesão degenerativa do menisco
Por FABRICIO FOGAGNOLO 15 ago., 2021
O tratamento das lesões degenerativas segue o mesmo princípio de todas as outras lesões do menisco: preservação ao máximo do tecido meniscal, o que é extremamente importante para a manutenção da saúde articular e evitar degeneração condral.
Paciente com artroplastia de joelho andando de bicicleta
Por FABRICIO FOGAGNOLO 04 ago., 2021
É óbvio que quanto mais usarmos a prótese, mais ela sofrerá desgastes. Esse desgaste depende de vários fatores, como a intensidade da carga aplicada sobre os implantes e o tipo de atividade. Reduzir a atividade física, contudo, não é uma decisão sábia: seria o mesmo que trocarmos os pneus de um carro, mas deixá-lo na garagem com medo de gastar os pneus. É necessário saber usufruir dos benefícios e da qualidade de vida que artroplastia do joelho proporciona, escolhendo atividades físicas seguras e que proporcionam estilo de vida saudável.
campo de futebol
Por FABRICIO FOGAGNOLO 30 jul., 2021
A lesão do ligamento cruzado anterior do joelho é extremamente comum, particularmente na população jovem e ativa e em esportes que envolvem mudanças rápidas de direção e movimentos rotacionais. É intuitivo considerar que quanto mais rapidamente seja realizada a cirurgia, menores serão os riscos do desenvolvimento de lesões associadas nos meniscos. O que diz a literatura ortopédica sobre isso?
Por FABRICIO FOGAGNOLO 21 jul., 2021
Entre os temores e ansiedades que estão relacionados com a decisão de submeter-se a uma cirurgia de joelho de grande porte destacam-se o medo da anestesia e a possibilidade de infecção do sítio operatório, cujo risco situa-se em 1 a 2% de todos os pacientes operados.
Comprimidos de anti-inflamatórios
Por FABRICIO FOGAGNOLO 20 jul., 2021
Embora haja ainda alguma controvérsia em estudos com animais, a maioria dos estudos em humanos aponta um prejuízo significativo do uso prolongado de anti-inflamatórios sobre a consolidação das fraturas. Períodos curtos, inferiores a 2 semanas, não causam grandes problemas. Assim, se teve uma fratura, procure usar analgésicos quando necessário, mas evite anti-inflamatórios!
Pessoas correndo na rua em grupo
Por FABRICIO FOGAGNOLO 11 jul., 2021
A associação entre corrida e o desenvolvimento da artrose no joelho (osteoartrite) não é bem clara. Nesse artigo exploramos as evidências mais recentes sobre o assunto. A corrida permanece sendo uma ótima atividade física, sendo até mesmo protetora quando praticada de forma leve a moderada. O risco aumentado para o joelho parece ser na prática de alta intensidade ou quando há fatores predisponentes para osteoartrite.
Por FABRICIO FOGAGNOLO 04 jul., 2021
No treinamento resistivo com restrição ao fluxo sanguíneo, os mesmos objetivos podem ser atingidos com apenas 20 a 40% da carga máxima, ou seja, de forma muito mais segura aos pacientes que realizaram cirurgias mais delicadas.
Lesão em alça de balde do menisco medial
Por FABRICIO FOGAGNOLO 12 mar., 2019
As lesões nos meniscos causam dores e desconforto em graus variáveis, podendo limitar bastante as atividades físicas em atletas ou, até mesmo, nas atividades cotidianas em pessoas sedentárias aos mínimos esforços.
Dor no joelho durante atividade física
Por FABRICIO FOGAGNOLO 12 mar., 2019
A cirurgia do joelho é bastante comum e apresenta elevadas taxas de resolução dos problemas e satisfação aos que passam pelo procedimento — e isso garante melhor qualidade de vida aos pacientes.
Osteotomia do fêmur e da tíbia para correção de genu varo
Por FABRICIO FOGAGNOLO 12 mar., 2019
Alguns cuidados antes e depois de uma cirurgia garantirão uma recuperação sem transtornos para o paciente e seus familiares.
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