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E as infiltrações no joelho? Funcionam?

Falando um pouco sobre as mais comuns.


Há inúmeros tratamentos disponíveis para osteoartrite no joelho (informalmente chamada de desgaste ou artrose), mas muitos são cercados de grandes controvérsias. Enquanto as cirurgias, particularmente as artroplastias de joelho (próteses), são muito efetivas no tratamento dos estágios finais de osteoartrite, existe um grande interesse e procura por tratamentos menos invasivos e bem-sucedidos no controle dos sintomas da osteoartrite leve ou moderada, retardando a necessidade da intervenção cirúrgica. Devemos sempre nos lembrar da natureza degenerativa da doença, ou seja, ela é progressiva. Essa é a razão pela qual é necessária cautela com o uso crônico de anti-inflamatórios, que possuem diversos efeitos colaterais. Principalmente em pacientes mais jovens e ativos, procuramos tratamentos que retardam a progressão da artrose, mantêm uma boa qualidade de vida e função e postergam a necessidade de colocação de próteses (embora tenham resultados excelentes e durabilidade que pode passar dos 20 anos, como em outros artigos que pode consultar aqui).  As infiltrações intra-articulares têm efeito mais localizado, sempre foram populares e muitos medicamentos podem ser empregados, com diferentes eficácias. As principais indicações das infiltrações são para pacientes em estágios não tão avançados de doença, pouca melhora com reabilitação fisioterápica, desejo de postergar cirurgias maiores ou quando o paciente tem problemas clínicos que aumentam o risco cirúrgico. Os corticosteroides são eficazes no controle agudo da dor e possuem baixo custo, porém têm duração limitada e podem degenerar a cartilagem articular, acelerando o processo da osteoartrite, quando utilizados com muita frequência. Recentemente ganharam atenção o plasma rico em plaquetas (PRP), o ácido hialurônico e as injeções de ozônio, sendo raros estudos de alta qualidade e sem conflitos de interesse que os comparam na literatura. Em um estudo cuja referência encontra-se listada abaixo, foram estudados 120 pacientes entre 47 e 80 anos de idade, com osteoartrite leve a moderada, distribuídos de forma aleatória entre três grupos. Os pacientes foram acompanhados e avaliados nos intervalos de 1,3, 6 e 12 meses após as infiltrações com escores de dor (VAS) e escores funcionais (WOMAC). Os autores encontraram uma melhora sustentada e significativa para o plasma e o ácido hialurônico, que são superiores ao ozônio. Não houve diferença significativa entre o PRP e o ácido hialurônico até os 6 meses, havendo vantagem para o PRP na avaliação aos 12 meses, podendo indicar maior durabilidade do alívio dos sintomas com essa opção, enquanto o ácido hialurônico precisa ser repetido a cada 6 meses. O ácido hialurônico é mais acessível, mais simples de ser aplicado e tem custo significativamente mais baixo, sendo a opção mais preferida na prática diária.

Embora seja de uso rotineiro e bastante indicado pelos ortopedistas, não há consenso científico do benefício das injeções intra-articulares. Alguns estudos com ácido hialurônico, por exemplo, mostram melhora na dor e na função, enquanto outros estudos igualmente bem desenhados não mostram absolutamente nenhum efeito. Recentemente, em 2021, a Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos (AAOS) publicou um sumário de orientações (guidelines) no tratamento não-cirúrgico da osteoartrite do joelho, onde concluem que o uso rotineiro de ácido hialurônico não pode ser recomendado baseado nos estudos até o momento. São ao menos 28 estudos comparativos de boa qualidade sem comprovação clara de benefícios, mas os autores observam no final que o ácido hialurônico pode estar indicado em um grupo específico de pacientes ("However, as previous research reported benefits in their use, the group felt that a specific subset of patients might benefit from its use"). Pode ainda haver diferença estrutural na fórmula entre os diversos produtos no mercado (maior ou menor peso molecular, por exemplo), com resultados diferentes e que foram pouco analisados por essas revisões e publicações. A evidência quanto ao PRP é ainda mais limitada, embora o grupo da AAOS também o coloque como opção de tratamento.

Infelizmente, a incerteza ainda é a palavra que ainda define a eficácia do tratamento conservador da osteoartrite através de injeções intra-articulares no joelho, cujas indicações precisam ser bem analisadas de acordo com o histórico do paciente, exame físico, estágio radiológico da doença e risco cirúrgico.


Observações importantes:

1) Um único estudo pode não traduzir a realidade, não ser definitivo ou conclusivo, mas serve como referência para consulta e comparação com outros estudos.

2) Ainda há controvérsias importantes no tratamento não-cirúrgico da artrose de joelho, assim como com relação aos diferentes tipos de infiltrações que podem ser realizadas.

3) Geralmente é recomendado o intervalo de alguns meses entre a injeção intra-articular e a realização de uma cirurgia para artroplastia - colocação de prótese.

4) A infiltração, quando opção, deve preferencialmente ser realizada pelo ortopedista responsável pelo paciente, uma vez que será ele quem irá tratar eventuais complicações do procedimento ou a evolução da doença.

5) Opções cirúrgicas devem ser consideradas em casos avançados, piora na qualidade de vida e esgotamento das opções conservadoras de tratamento.


Literatura consultada:

 

1) OrthoEvidence. Comparison of intra-articular platelet rich plasma, hyaluronic acid, and ozone for knee OA. ACE Report. 2016;5(9):33. Available from: https://myorthoevidence.com/AceReport/Report/9220

 2) Choice of intra‑articular injection in treatment of knee osteoarthritis: platelet‑rich plasma, hyaluronic acid or ozone options. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc. 2017 Feb;25(2):485-492

 3) Jevsevar D, Donnelly P, Brown GA, Cummins DS. Viscosupplementation for Osteoarthritis of the Knee: A Systematic Review of the Evidence. J Bone Joint Surg Am. 2015 Dec 16;97(24):2047-60. doi: 10.2106/JBJS.N.00743. PMID: 26677239.

 4)American Academy of Orthopaedic Surgeons Management of Osteoarthritis of the Knee (NonArthroplasty) Evidence-Based Clinical Practice Guideline. https://www.aaos.org/oak3cpg


Joelho, Trauma e Esporte

Cápsulas de vitamina D
Por FABRICIO FOGAGNOLO 22 fev., 2024
Estudos epidemiológicos têm demonstrado uma associação significativa entre baixos níveis de vitamina D e a prevalência e gravidade da osteoartrite. A deficiência de vitamina D pode comprometer a integridade da cartilagem articular, promover a inflamação sinovial e contribuir para o desenvolvimento de sintomas articulares.
Cirurgiões atuando em procedimento ortopédico
Por FABRICIO FOGAGNOLO 24 set., 2023
Lidar com a ansiedade antes de uma cirurgia pode ser desafiador, mas existem várias estratégias que podem ajudar a reduzir o estresse e promover uma sensação de calma e controle. O medo pode impedir definitivamente os pacientes de uma vida ativa, da prática de esportes, das viagens e até mesmo do convívio com a família.
Pessoa com uma caixa na cabeça em alusão aos transtornos depressivos
Por FABRICIO FOGAGNOLO 17 set., 2023
Justamente quando a motivação precisa ser maior para enfrentar a reabilitação pós-operatória e as sessões de fisioterapia, os pacientes podem se sentir depressivos. A depressão é um transtorno de saúde mental generalizado caracterizado por sentimentos de tristeza, desespero e diminuição do interesse ou prazer nas atividades.
radiografias mostrando planejamento de osteotomia do joelho
Por FABRICIO FOGAGNOLO 07 dez., 2022
Uma cirurgia que percebo muita resistência por parte dos pacientes no tratamento da osteoartrite do joelho é a osteotomia. O fato é que essa cirurgia é muito menos agressiva e com recuperação mais fácil do que a maioria das pessoas imagina. O paciente ideal é aquele que possui osteoartrite (desgaste) do joelho acometendo apenas um lado da articulação, com boa preservação da cartilagem e do menisco do lado contralateral, e que possui alterações anatômicas em ângulos específicos que são medidos em radiografias panorâmicas no estudo do alinhamento do membro inferior.
Por FABRICIO FOGAGNOLO 20 set., 2022
Danis foi o primeiro a desenvolver um conceito para fixação interna de fratura biomecanicamente estável, criando e produzindo seus próprios parafusos e placas. Em 1938, ele produziu uma placa de aço com parafusos que exerciam compressão axial na superfície da fratura. Um dispositivo conhecido como "coapteur".
Pessoa dirigindo veículo após cirurgia de joelho
Por FABRICIO FOGAGNOLO 24 jan., 2022
Uma das grandes preocupações quando um paciente é submetido a uma cirurgia de joelho é quando seria o momento seguro para voltar a dirigir. Todos nós queremos rapidamente retomar as nossas atividades, tanto no trabalho, como nos esportes, mas dirigir um veículo após operar o joelho tem duas preocupações principais: uma delas é sobre a segurança da cirurgia em si, para não prejudicar o resultado da operação.
Braço robótico - cirurgia do joelho
Por FABRICIO FOGAGNOLO 15 dez., 2021
Cirurgias ortopédicas realizadas por robôs não pertencem mais apenas à nossa imaginação. Artroplastias totais e parciais do joelho já são realizadas com muita segurança e precisão, auxiliadas por braços robóticos que buscam minimizar erros e garantir acurácia no posicionamento dos componentes da prótese, resultando em membros bem alinhados, com melhores resultados clínicos e com ótima mobilidade articular. Sensores são colocados no fêmur e na tíbia e monitoram, em tempo real, todas as etapas da cirurgia.
Paciente operada dos 2 joelhos simultaneamente - colocação de prótese
Por FABRICIO FOGAGNOLO 21 nov., 2021
Operar ao mesmo tempo os dois joelhos deveria ser conveniente e ter várias vantagens: recuperação mais rápida, uma única cirurgia e internação, uma única anestesia, maior facilidade para a família se organizar e providenciar os cuidados do paciente, que geralmente é idoso, menores custos de tratamento, menos tempo dentro do hospital. O problema é que há muitos estudos relatando riscos aumentados de complicações sérias em pacientes submetidos a colocação de prótese em ambos os joelhos.
Radiografia de prótese parcial de joelho
Por FABRICIO FOGAGNOLO 17 set., 2021
Quanto tempo minha cirurgia vai durar? Essa pergunta é relativamente fácil de responder, e a resposta é: Muito! A prótese de joelho geralmente dura muito. E “muito” significa que mais de 95% das cirurgias geralmente passam dos 15 anos de durabilidade.
Cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior
Por FABRICIO FOGAGNOLO 16 set., 2021
As lesões do ligamento cruzado anterior (LCA) são muito frequentes na população. Uma grande preocupação no longo prazo, tanto para o tratamento conservador como para o tratamento cirúrgico, é o surgimento de lesões condrais (cartilaginosas) e a evolução para osteoartrite secundária no decorrer dos anos.
Artroscopia mostrando lesão degenerativa do menisco
Por FABRICIO FOGAGNOLO 15 ago., 2021
O tratamento das lesões degenerativas segue o mesmo princípio de todas as outras lesões do menisco: preservação ao máximo do tecido meniscal, o que é extremamente importante para a manutenção da saúde articular e evitar degeneração condral.
Paciente com artroplastia de joelho andando de bicicleta
Por FABRICIO FOGAGNOLO 04 ago., 2021
É óbvio que quanto mais usarmos a prótese, mais ela sofrerá desgastes. Esse desgaste depende de vários fatores, como a intensidade da carga aplicada sobre os implantes e o tipo de atividade. Reduzir a atividade física, contudo, não é uma decisão sábia: seria o mesmo que trocarmos os pneus de um carro, mas deixá-lo na garagem com medo de gastar os pneus. É necessário saber usufruir dos benefícios e da qualidade de vida que artroplastia do joelho proporciona, escolhendo atividades físicas seguras e que proporcionam estilo de vida saudável.
campo de futebol
Por FABRICIO FOGAGNOLO 30 jul., 2021
A lesão do ligamento cruzado anterior do joelho é extremamente comum, particularmente na população jovem e ativa e em esportes que envolvem mudanças rápidas de direção e movimentos rotacionais. É intuitivo considerar que quanto mais rapidamente seja realizada a cirurgia, menores serão os riscos do desenvolvimento de lesões associadas nos meniscos. O que diz a literatura ortopédica sobre isso?
Por FABRICIO FOGAGNOLO 21 jul., 2021
Entre os temores e ansiedades que estão relacionados com a decisão de submeter-se a uma cirurgia de joelho de grande porte destacam-se o medo da anestesia e a possibilidade de infecção do sítio operatório, cujo risco situa-se em 1 a 2% de todos os pacientes operados.
Comprimidos de anti-inflamatórios
Por FABRICIO FOGAGNOLO 20 jul., 2021
Embora haja ainda alguma controvérsia em estudos com animais, a maioria dos estudos em humanos aponta um prejuízo significativo do uso prolongado de anti-inflamatórios sobre a consolidação das fraturas. Períodos curtos, inferiores a 2 semanas, não causam grandes problemas. Assim, se teve uma fratura, procure usar analgésicos quando necessário, mas evite anti-inflamatórios!
Pessoas correndo na rua em grupo
Por FABRICIO FOGAGNOLO 11 jul., 2021
A associação entre corrida e o desenvolvimento da artrose no joelho (osteoartrite) não é bem clara. Nesse artigo exploramos as evidências mais recentes sobre o assunto. A corrida permanece sendo uma ótima atividade física, sendo até mesmo protetora quando praticada de forma leve a moderada. O risco aumentado para o joelho parece ser na prática de alta intensidade ou quando há fatores predisponentes para osteoartrite.
Por FABRICIO FOGAGNOLO 04 jul., 2021
No treinamento resistivo com restrição ao fluxo sanguíneo, os mesmos objetivos podem ser atingidos com apenas 20 a 40% da carga máxima, ou seja, de forma muito mais segura aos pacientes que realizaram cirurgias mais delicadas.
Lesão em alça de balde do menisco medial
Por FABRICIO FOGAGNOLO 12 mar., 2019
As lesões nos meniscos causam dores e desconforto em graus variáveis, podendo limitar bastante as atividades físicas em atletas ou, até mesmo, nas atividades cotidianas em pessoas sedentárias aos mínimos esforços.
Dor no joelho durante atividade física
Por FABRICIO FOGAGNOLO 12 mar., 2019
A cirurgia do joelho é bastante comum e apresenta elevadas taxas de resolução dos problemas e satisfação aos que passam pelo procedimento — e isso garante melhor qualidade de vida aos pacientes.
Osteotomia do fêmur e da tíbia para correção de genu varo
Por FABRICIO FOGAGNOLO 12 mar., 2019
Alguns cuidados antes e depois de uma cirurgia garantirão uma recuperação sem transtornos para o paciente e seus familiares.
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